Não imaginei que haveria tanta repercussão na análise que fiz da música
"sabor de mel" da cantora
"Damaris", mais de quinhentas pessoas passaram para dar uma olhadinha no artigo intitulado
"Hino nacional das abelhinhas", onde analiso teologicamente algumas frases.
Desta vez, quero propôr aqui, neste artigo, algumas frases de diversos hinos que fazem um sucesso extraordinário no meio Gospel.
Minha intenção aqui, não é ofender os ídolos gospels, e sim, fazer uma alerta do que cantamos na igreja. Será que realmente prestamos atenção no que louvamos? Será que apenas porque nos simpatizamos com tal cantor(a), abrimos nossas bocas e entoamos o que faz sucesso? Ou então, é a música do momento, todo mundo gosta, o importante é a melodia da canção, se tem um ritmo, uma rima, se tem frases estranhas que são copiadas de jargões evangélicos?
Vamos mudar uma frase que um dia ouvi: "O momento que somos mais hipócritas, é o momento em que cantamos".
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"A mão que segurou o martelo, era a mão de Deus..."
Temos aqui a primeira frase, trecho da música que tem por título "O que levaria um pai".
No dia 06/11/10, meu irmão Gabriel, pregava uma mensagem no culto, e num determinado momento ele citou a seguinte frase: "Deus não mata!", no mesmo momento eu ví algumas "cabeças cabisbaixas", mas ele argumentou bem, tendo em vista que ainda tem apenas 17 anos. Houve algumas repercussões sobre tal citação, disseram assim: "...como Deus não mata? é claro que Ele mata, Ele é amor, mas também é JUSTIÇA!".... " ...a faculdade esta deturpando a mente deles..." (pois sou estudante de Teologia).
Quero aproveitar o trecho do hino citado e reforçar tal citação do Gabriel. Serei bem simples em minhas argumentações, pois, quero ter como alvo o público da igreja.
Quando vamos ao livro de Gênesis, vemos na narrativa bíblica, o relato de Caim e Abel (Gn 4), Caim mata seu irmão mais novo e qual é a atitude de Deus em relação a tal situação, Deus matou Caim?
Agora vamos para o livro de Êxodo, o sexto mandamento dado a Moisés é o
"Não matarás" (Ex.20.13). Como o próprio Deus dá um mandamento e Ele mesmo não o cumpre? Então vamos lá em Efésios cap 5 verso 1, que diz:
"Sede imitadores de Deus como filhos amados". Então eu posso matar também, estarei imitando a Deus, ohhhhhh glóriaaaaa. Não é Jesus quem diz:
"Eu sou o caminho,a verdade e a VIDA..." (Jo14.6), ué, Ele não diz MORTE. É Ele quem também diz: "...
O ladrão vem senão a roubar, a MATAR e a destruir; e Eu vim para que tenham VIDA..." (Jo10.10), Deus não é um assassino, é um Deus que promove Vida, um Deus bom, afinal, Deus é amor. Jesus veio revelar a vontade de Deus, Ele mesmo quem disse:
"Eu e o Pai somos um" (Jo10.30), e ainda mais:
"E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um". (Jo17.22), Jesus não veio pra matar, muito pelo contrário, Ele deu sua vida voluntariamente.
Quero postar um texto do Pr. Ed René Kivts, um brilhante artigo que me fez refletir bastante acerca da cruz de Cristo:
"Se o céu existe, Deus tem muito que explicar". Essa afirmação do Robert De Niro faz eco em meu coração. Também experimento o incômodo de deixar Deus sub judice diante do sofrimento humano. Não me conformo diante das injustiças da vida. O argumento de que todos somos maus e em última análise ninguém mereceria ser poupado do mal não me satisfaz. Sou daqueles que acreditam que coisas ruins acontecem às pessoas boas e acalentam silenciosos uma certa contrariedade quando coisas boas acontecem às pessoas ruins. Acredito, sim, que no mundo existe gente boa e gente ruim. E também acredito que a maioria das pessoas não merece a tragédia que sofre. O casal que perde o filho recém nascido, o adolescente que fica tetraplégico após um displicente mergulho na piscina do clube, a mulher que se vê mutilada pelo câncer, o pai de família que percorre as ruas na indignidade do desemprego e que, por vergonha ou por caráter - as duas coisas, não sabe nem mesmo esmolar, são situações cotidianas que me fazem dormir mal sob o peso do veredicto: Deus tem mesmo muito que explicar.
Mas trago no coração duas outras certezas que me apaziguam a alma, me dão coragem para viver e me animam à solidariedade, ainda que tímida e não poucas vezes insuficiente. O céu existe. Não sei como é. Não sei onde fica. Não sei quando acontece. Mas que existe, existe. Este mundo não é a realidade definitiva. O presente estado das coisas não é a versão final da obra de Deus. Uma coisa é o mundo em que vivemos. Outra, o mundo em que viveremos eternamente. E a respeito das coisas que acontecem neste mundo e não deveriam acontecer, e que não acontecerão no mundo vindouro, Deus já se explicou. Deus se pronunciou em alto e bom som, há mais de dois mil anos, na cruz do Calvário, onde foi morto Jesus de Nazaré, o Cristo, unigênito de Deus.
A tradição cristã afirma que "Deus prova seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores". Quem duvida do amor de Deus deve olhar para o Calvário. No dia em que o sofrimento se agiganta e a visão do amor de Deus fica ofuscada pelas lágrimas da dor quase insuportável, a cruz do Calvário é o grito apaixonado de Deus. John Stott disse que na cruz de Cristo Deus justifica não apenas a humanidade, mas justifica a si mesmo. Na cruz de Cristo, Deus se levanta diante de todos os que o acusam de ser injusto, tirano, indiferente ao sofrimento e à dor humanas, e pronuncia a sentença de inocência sobre si mesmo. A cruz de Cristo é a prova irrefutável do amor de Deus.
Na cruz de Cristo há quatro afirmações que provam o amor e definem a inocência de Deus. Na cruz de Cristo Deus é declarado inocente porque se solidariza com as vítimas do mal e da malignidade. Através da morte de Jesus Cristo, seu Filho, Deus afirma "O mal também me feriu", "O sofrimento chegou também à minha casa", "As lágrimas pelo padecimento injusto também rolam dos meus olhos", "Eu e as vítimas do mal e da malignidade somos um".
Aqueles que imaginam que o Deus que "habita em luz inacessível" vive confortavelmente no ar condicionado do céu, enquanto suas criaturas penam contra o diabo na terra do sol, estão absolutamente enganados. Deus tem a cara suja pelas lágrimas que borram seu rosto sofrido com a dor de cada um dos seus filhos por adoção e do seu unigênito. Na cruz de Cristo Deus sofre conosco. Sofre por nós. Sofre em nosso lugar. Deus sabe o que é padecer. Seu Filho é homem de dores. Ovelha muda entre seus sanguinários tosquiadores. Na cruz de Cristo Deus atravessou não apenas o vale da sombra da morte. Atravessou a própria morte.
Na cruz de Cristo Deus é declarado inocente porque não é contato entre os promotores do mal, mas entre os que sofrem os danos da malignidade. Na cruz de Cristo Deus afirma "Não olhem para mim como se eu ordenasse o mal", "Quando estiver sofrendo, não me conte entre os que lhe causam a dor", "Na cruz, eu não batia pregos na mão de ninguém. Na cruz, a mão sob os pregos ferozes era a minha". Quase posso escutar Deus dizendo à mãe que chora a filha atropelada: "Não me tome como quem passou por cima, eu estava em baixo, sendo esmagado sob o peso da borracha negra que me dilacerava a carne e a alma".
Na cruz de Cristo Deus sofre o mal. Na cruz de Cristo Deus é exposto como vítima da malignidade e não como algoz que causa dor e sofrimento. Na cruz de Cristo os verdadeiros promotores da morte são publicamente desmascarados. Cai o pano. E todo mundo pode ver que Deus não está com mãos sujas de sangue inocente. Na cruz de Cristo Deus é a mão inocente que sangra.
Na cruz de Cristo Deus é declarado inocente porque fica evidente que a causa do sofrimento é o pecado da raça humana. Os pecadores estão pensos nas cruzes laterais, mas a cruz do meio sustém um inocente. Na cruz de Cristo Deus afirma: "Vocês deflagraram o mal", "Vocês abriram a caixa de Pandora", "Vocês soltaram a besta fera", "Vocês macularam o Paraíso". O aviso ainda ecoa pelo universo: "No dia em que pecar, certamente morrerás". A presença da morte é evidência de pecado. E o pecado é responsabilidade da raça. A cruz de Cristo somente se explica porque o pecado que a faz necessária. Naquele dia em que Deus provava seu amor para conosco éramos de fato ainda pecadores.
Na cruz de Cristo Deus é declarado inocente porque é o que morre, e não o que mata. Na cruz de Cristo pende o justo morrendo a morte dos injustos. O veredicto está lançado: há pecado, pois que haja morte. O salário do pecado é a morte, disse o apóstolo. A justiça do Deus três vezes santo há que ser satisfeita. Deus está diante de seu dilema eterno: matar ou morrer. E sua opção é definitiva, desde antes da criação do mundo: morrer. Na cruz de Cristo Deus faz sua escolha e anuncia sua disposição de amor absoluto: se alguém tem que morrer para que a justiça volte a brilhar no universo maculado pela culpa da raça humana, que viva a raça e que morra eu-Eu.
O primeiro dos dilemas é criar ou não criar. O segundo é criar com liberdade ou sem liberdade. O terceiro é assumir o ônus da liberdade ou deixar este ônus nas mãos da criatura. Deus faz as escolhas que o machucam, que lhe causam dor, que o fazem sofrer, que o diminuem. Simone Weil diz que "Deus e todas as suas criaturas é menos do que Deus sozinho". Deus escolhe criar. Escolhe criar um ser livre, pois não fosse livre não seria à imagem do Criador. E escolhe arcar com ônus da liberdade que concede à sua criatura. Na cruz de Cristo está Deus, dando ao rebelde o direito de existir. Na cruz de Cristo está Deus entregando a sua vida, voluntariamente, em favor dos pecadores. O mal deflagrado pela raça levanta sua sombra sobre o trono de Deus. E Deus se levanta como um Cordeiro que se doa, pois escolhera morrer, em detrimento de matar. Na cruz de Cristo está o Deus que morre para que todos tenham vida, vida completa, abundante vida.
Voltando a frase, Deus mata seu próprio Filho? A mão que segura o martelo, é a mão do Assassino, do que sem remorso, Mata!... Acho que poderíamos até dizer - não tenho certeza disso - "Amão que segurou o martelo, foi a minha mão".
"O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a VIDA eterna" (Rm6.23)
Um grande desabafo!